Mais um livro clássico: O Advogado

19 de abril de 2024

Contemporâneo de Calamandrei (1889/1956) – autor de “Eles os juízes, visto por nós, os advogados”, a que já nos referimos neste espaço (1º/08/2023) –, o grande advogado francês Henri Robert (1863/1936) escreveu outro clássico sobre a profissão, “O Advogado”.

O livro tem como epígrafe a célebre frase de Voltaire: “J’aurais voulu être avocat, C’estle plus bel état du monde (Eu teria gostado de ser advogado. É o estado mais bonito do mundo).

É incrível verificar como as observações daquela época ainda são úteis na atualidade, certamente porque se referem à essência da profissão, seus meandros, peculiaridades e a circunstâncias históricas que ecoam até nossos dias.

Mesmo ao tratar de assuntos mais complexos e áridos da advocacia, como, por exemplo, exageros da eloquência judiciária e honorários, a leitura é leve e prazerosa.

A obra aborda temas relevantes. Sobre sustentações orais, adverte o experiente avocat: “Quanto mais experiência de tribunal um advogado adquire, quanto mais reputação tem, mais ele procura adaptar-se a esse modelo de sinceridade, concisão e elegante simplicidade”. Reflete sobre a vida do advogado, suas inquietudes, faina diária e como a sociedade não lhe reconhece a importância, também fazendo referências polêmicas sobre a mulher na advocacia – produto daqueles tempos –, mas sem deixar de reconhecer seu valor profissional.

Ao final da bem cuidada edição da Martins Fontes, há um apêndice “Voltaire, defensor de Calas”, passagem histórica interessante, e, também, sobre o grande “Lachaud” (1818/1882), entre os maiores criminalistas franceses de todos os tempos: quando lhe disseram, certa feita, que teria menos trabalho para atuar sendo ele quem era – referindo-se à sua fama de grande tribuno – respondeu: “não me chamo Lachaud, meu nome é Defesa!”

Não há como perder a oportunidade de conhecer essa magnífica obra. Para quem já a conhece, vale a releitura.